[O Morro Dos Ventos Uivantes]




O Morro dos Ventos Uivantes 
Autora: Emily Brontë 
Tradução: Guilherme da Silva Braga 
Editora: L&PM POCKET
Número de páginas: 373

["Seria impossível encontrar nesta biblioteca um livro que eu não tenha folheado e do qual não tenha aprendido alguma coisa útil; a não ser na estante de livros gregos e latinos e franceses... mas estes eu sei diferenciar uns dos outros: é o máximo que o senhor pode esperar da filha de um homem pobre"] 

        
    
                Emily Brontë cria em sua narrativa um misto de emoções em relação aos seus personagens. Ora queremos acolher todos, pois sabemos o que sofreram; ora queremos dar um chute na bunda de todo mundo (perdoe meus modos). Ao mesmo tempo em que ela almiscara o texto com diversos sentimentos, ela se utiliza de uma polifonia de vozes para construir sua narrativa. Umas das dificuldades que me deparei ao entrar no Morro dos Ventos Uivantes, foi justamente entender onde estava cada personagem e qual papel cada um desempenhava na obra. Já que a narração - inicialmente - é feita por um inquilino de Heathcliff que vai pedir abrigo no Morro dos Ventos Uivantes e vai se deparar com um bando de gente de modos brutos, taciturnos e misantropos e mais tarde, naquela noite, ele ainda será assombrado - literalmente - dentro do quarto que lhe é dado. Quando o tal inquilino chega em sua casa, ele comenta com a sua criada os estranhos acontecimentos e as pessoas estranhas que ele conhece no Morro. A criada, conhecendo toda aquela gente, já que ela que os serviu praticamente por toda a vida, começa então a narrar todas a história daquelas pessoas; iniciando por Heathcliff e a relação que ele tinha com a tal assombração que o visita em sua curta estadia no Morro.
             Quem já viu o filme, ou já ouviu falar da obra, pensa que irá se deparar com fantasmas. O livro de fato trás fantasmas, mas não configurados em espíritos. Os fantasmas que assombram cada página são construídos a partir de emoções: medos não superados., egoísmos, almas geniosas, e o principal: a vingança. Todos os fantasmas que estão presentes em O Morro dos Ventos Uivantes, estão entranhados em Heathcliff e em seu desejo por vingança; que não se trata de um mero "acerto de contas", mas que se pauta na amargura: A amargura da rejeição pela mulher amada, a amargura por ela ter morrido, a amargura de ter que continuar vivo.
               Os personagens, tão controversos, tão "desagradáveis" e ao mesmo tempo tão humanos, vão contra a maré de personagens da era vitoriana, contra os personagens "Jane-Austianos" por assim dizer; já que se tratam de personagens reais. Heathcliff  não é um lorde rico, bonito com desvios de caráter perdoáveis: ele é, como descreve o livro, um bruto, de maus modos, causa ânsia aos leitores, já que seria possível encontrar alguém tão machucado pela vida ao ponto de ser cruel. Catherine não é a mocinha bem educada que tem grandes hábitos de leitura e pauta sua vida nas escolhas do coração, além de fazer sempre a escolha ceta. Cathy é extremamente falha, egoísta, mimada, e vai pautar suas escolhas naquilo que a beneficiará mais. Talvez esse seja mais um dos motivos que dividem os leitores que amam e odeiam a obra de Brontë: a apresentação da angústia que permeia os personagens e os próprios personagens são reais.
                O romance é dividido em duas partes: sendo a segunda parte a narrativa de como a vida daquelas pessoas tão grotescas chegou no ponto que nos é apresentado nas páginas iniciais; enquanto que a primeira parte é uma volta no tempo para a história amargurada de Heathcliff, que é no mínimo um personagem sofrido, que está em busca de revidar todos os chutes que já deram nele. E como as pessoas de quem ele quer se vingar não estão mais vivas, ele buscará a vingança em gente que nem sabe o que aconteceu com ele e que não tem nada haver com a história. Apesar dos erros cometidos por ele, o personagem não está em busca de redenção, não está em busca de perdão, ele não quer paz. Ou melhor, a paz que ele busca está em passar a eternidade com a mulher amada, com a sua "morta-amada" que o assombra por toda parte. O tom de poético que essa história terrível recebe vem de toda essa dependência que tanto a Catherine sente pelo Heathcliff e ele por ela, é que ambos se vêem um no outro, a ponto de se confundirem um com o outro. Apesar de serem opostos nos tratamentos que eles recebem, nos erros que cometem, nos sonhos que têm. Apesar disso tudo, eles são tão um só, que chegam a definhar quando não estão juntos. Tanto "amor" chega a ser sufocante e amargurante. 
                 As desventuras que acompanham o casal principal, são pautadas principalmente nas escolhas que estes fazer ao longo do texto. As consequências não param somente neles: pelo contrário, influencia a vida de toda a família, dos criados, dos filhos, do próprio ambiente em que eles estão. Sem muitos momentos felizes, de gargalhar, a obra promete um gosto amargo na boca com leves sorrisos de canto. Apesar disso tudo, torcemos para que as coisas comecem a dar certo para toda aquela "família" avessada, e esperamos sentir a paz no final da tempestade - que ironicamente é alcançada somente nos últimos parágrafos da obra que é concluída de uma maneira brilhante, que fecha todo um ciclo de ódio e remorso com bonança e uivos de vento. 


[Trechos do Livro]

["Não sei como explicar, mas certamente que tu e todos têm a noção de que existe, ou deveria existir, um outro eu para além de nós próprios. Para que serviria eu ter sido criada, se apenas me resumisse a isto.? Os meus grandes desgotos neste mundo, foram os desgostos de Heathcliff, e eu acompanhei e senti cada um deles desde o início; é ele que me mantém viva. Se tudo o mais perecesse e ele ficasse, eu continuaria, mesmo assim, a existir; e, se tudo o mais ficasse e ele fosse aniquilado, o universo se tornaria, para mim, uma vastidão desconhecida, a que eu não teria a sensação de pertencer..."]

["Se olho para essas lajes, vejo nelas gravadas as suas feições.! Em cada nuvem, em cada arvore, na escuridão da noite, refletida de dia em cada objeto, por toda a parte eu vejo a tuda imagem.! Nos rostos mais vulgares dos homens e mulheres, até as minhas feições me enganam com a semelhança. O mundo inteiro é uma terrível testemunha de que um dia ela realmente existiu, e eu a perdi para sempre.."]

["Nesse intante a porteira do jardim foi aberta.O casal estava voltando.
- Eles não tem medo de nada juntos, desafiaram satánas e todas legiões"]


["Tu me amavas... que direito tinhas então de me deixar?"]

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