[Piquenique Na Estrada]

Piquenique na estrada

Autores: Arkádi & Boris Strugátski

Tradução: Tatiana Larkina

Editora: ALEPH

Número de páginas: 320 

["Tu deves fazer o bem a partir do mal, pois não há mais nada a partir de que se possa fazê-lo" - R. P. Warren]

               Imagine que você saiu para um piquenique. Levou uma daquelas cestas bonitas de filme americano, estendeu sua toalha na grama, levou sanduíches, frutas, suco, tudo que é pertinente para piqueniques. Agora imagine que você juntou suas coisas e se mandou deixando para trás algumas migalhas do seu lanche, duas ou três embalagens, uma casca de banana. As formigas tiveram seu terreno invadido. Foram atraídas pelas sobras que você deixou para trás e fizeram delas um belo banquete.

               Os irmãos Arkádi e Boris Strugátski se utilizam desta analogia, de ideais existencialistas e de um humor negro e irônico para narrar a história de Red, um Stalker responsável por catar o lixo deixado pelos alienígenas que visitaram a Terra num breve passeio. Tal lixo é tratado como um banquete tanto pelos stalkers que fazem fortuna com o lixo coletado; quanto pelo governo que montado nas costas dos stalkers acaba por testar essas novas tecnologias.

              Os Strugátski tratam de temas existencialistas que abrangem mais do que a pequenez humana através de comparações com insetos, violência física e verbal, exclusão social. Os irmãos fazem diversas analogias com o contexto social presente na história e com o contexto no qual nos encontramos na atualidade. Eles trazem dilemas morais para a discussão e muitas vezes te colocam na mesma situação dos personagens criando momentos de empatia.

              A narrativa começa com Red que está mais para anti-herói, já que é extremamente humano, com falhas de caráter, trata-se de um ser humano "quebrado", cheio de traumas tentando ganhar a vida se colocando em risco para coletar os objetos deixados pelos alienígenas. Red tem uma família. Esposa e filha, filha essa que nasce com modificações genéticas devido ao contato do pai com a Zona.

             O livro muitas vezes traz palavras pesadas de se ler, o que causa maior identificação com o enredo. É como se a vida fosse uma grande zona, e nós, stalkers confinados nela, tentando ganhar a vida com todas as futilidades, filosofias, ciclos.

Segue alguns trechos do livro 

["De dia, trabalho, à noite fica colado na TV e depois vai para a cama com a mulher de quem já enjoou faz tempo, para procriar mais cretinos? Suas greves, suas passeatas, a porcaria da sua política, nem morto irei para sua Europa fedorentas" - Pág 76]

["O problema é que o ser humano, pelo menos um ser humano comum, facilmente supera essa sua necessidade de adquirir conhecimentos. A hipótese da existência de Deus, por exemplo, é uma excelente oportunidade de entender absolutamente tudo sem adquirir qualquer conhecimento. Oferece ao ser humano um sistema simplificado de mundo e explica tudo com base nesse modelo simplificado. E há certas fórmulas decoradas junto com a assim chamada intuição, a boa e velha esperteza cotidiana e um pouco de bom senso..." - Pág - 206,207]

["Um piquenique. Imagine uma estrada no interior, uma clareira na mata, perto da estrada. O carro sai da estrada e vai até a clareira. Abrem-se as portas, e sai uma turma de jovens. Começam a tirar do porta-malas cestas com mantimentos, armam as tendas, ascendem a fogueira. Churrasco, música, fotos... De manhã, eles vão embora. Animais, pássaros e insetos da floresta, que assistiram horrorizados àquele evento noturno, saem de seus esconderijos (...)" - Pág - 208]

["E o que encontrarão lá no fundo e, o mais importante, será que voltarão de lá? E nós, meros mortais, desviando os olhos por assim dizer. Mas talvez seja assim mesmo que deva ser. Tudo seguindo seu rumo, e a gente se adaptando aos poucos. Ele estava certo quando disse que a maior proeza da humanidade foi sobreviver e pretender continuar sobrevivendo." - Pág - 225]

["FELICIDADE PARA TODOS, DE GRAÇA, E QUE NINGUÉM SEJA INJUSTIÇADO" - Pág 296]