[Fahrenheit 451]

           
Fahrenheit 451
Autor: Ray Bradbury 
Editora: Biblioteca Azul
Número de páginas: 215

["Existe gente demais, pensou. Somos bilhões e isso é excessivo. Ninguém conhece ninguém. Estranhos entram em nossa casa e nos violentam. Estranhos chegam e arrancam nosso coração. Estranhos chegam e nos tiram sangue. Meu Deus, que homens eram esses? Nunca os vi em toda minha vida" - Página 35]




     O brilhantismo de Ray Bradbury não se restringe aos livros; roteirista renomado, dirigiu filmes como "Moby Dick" e "Veio do Espaço", além de ter tido suas obras literárias adaptadas para o cinema como O Som do Trovão e o próprio Fahrenheit 451. Obra um tanto quanto imagética em sua narrativa. Rica de detalhes, narrada em terceira pessoa, a história do bombeiro Guy Montag foi um marco tanto da ficção científica quanto das distopias; podendo facilmente se encaixar também como uma obra política, já que o livro consegue nos elucidar um discurso claro e mostrar ao que veio. 
       A obra passa longe das novas distopias que se apoiam em romances adolescentes e reproduções de nomes como George Orwell - Apesar de Bradbury ser contemporâneo a este (o que não vem ao caso agora). 
      A história não se restringe a criticar os governos autoritários responsabilizando um ditador; pelo contrário, ela não deixa de apontar os dedos para toda uma população que se permite ser alienado e se combate sozinha se enclausurando em bolhas sociais. Além disso, incentiva a reflexão deixando diversas pontas soltas para nós, leitores, darmos nós. A obra me lembrou bastante A República de Platão, tendo em vista as discussões que Sócrates salienta quando fala a respeito das fases em que um governo passa, desde a democracia, passando por uma oligarquia e chegando a tirania e quais as influências que a própria sociedade cria para as diferentes ascensões ao poder. 
         A obra não foca na psiquê ou em um grande desenvolvimento de personagens, no entanto, não deixa a desejar quanto aos diferentes rostos que se apresentam durante a trama. Na minha visão particular, os personagens são claustrofóbicos, enclausurados e representam não indivíduos, mas sim sentimentos e sensações. O inconformismo (Guy Montag), a alienação e conformismo (Mildred), a impotência (Faber), a repressão e a intimidação( beatty ), empatia e mudança (Clarisse). Todas essas personas em conjunto criam uma trama envolvente que caminha para um desfecho que apesar de ser otimista, nos leva a reavaliar a sociedade na qual nos encontramos e pensar se não estamos, na nossa posição humana, fadados a cometer os mesmos erros e correr feito cego em tiroteio ignorando palavras e ações e histórias que aconteceram bem antes de todos nós. 


["Mas é isso o maravilhoso no homem; ele nunca fica desanimado ou desgostoso a ponto de desistir de fazer tudo novamente, porque ele sabe muito bem que é importante e vale a pena" - página 186]





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